O nome é
Francisco de Sousa Vieira, 34 anos de idade, natural de São Paulo, filho de uma
família de cinco irmãos. Ele sempre teve a vida recheada de situações, no
mínimo, complicadas. Entrou no mundo do crime aos 16 anos de idade depois de
ver um irmão ficar paralítico, especializou-se em assalto a bancos, largando
escola e trabalho, para “ajudar a família”.
Até
perceber que tinha escolhido o caminho errado, Francisco passou por 21
penitenciárias de São Paulo. “Depois de dois, três anos preso, eu já não tinha
mais nada daquilo que o dinheiro do crime me trouxe”, afirma. Para ele, a
lembrança mais forte daqueles tempos era a imagem de sua mãe, sempre chegando
ao presídio para visitá-lo.
Ele viu o
surgimento do PCC – Primeiro Comando da Capital, convivendo na Penitenciária de
Taubaté com os dez fundadores da facção criminosa. Francisco passou quase 13
anos preso em São Paulo. Por lá, ele liderou rebeliões em Presidente Bernardes
e Hortolândia I, participando de várias outras. Por conta disso, passou mais de
três anos na solitária. Quando obteve a liberdade, passou por Mato Grosso,
Paraná e Paraguai visando a novos assaltos a banco.
Em 2008,
Francisco chegou a Imperatriz e, juntamente com mais oito comparsas fortemente
armados com fuzis, metralhadora e granadas, foram assaltar o Banco do Brasil de
Esperantinópolis. “Ficamos escondidos na estrada, esperando o carro-forte
passar com o dinheiro para, somente então, entrar na cidade e praticar o
assalto”, detalhou. Depois de passar três dias escondido no mato, Francisco foi
até Lago do Junco comprar alimentos, quando foi preso pela polícia.
Ele foi
removido para o Presídio São Luis, na capital maranhense e, no período de seis
meses, tentou fugir três vezes. Quando foi transferido para a CCPJ do Anil,
convivendo com mais 20 presos em uma cela, Francisco começou a trabalhar com
artesanato, já decidido a mudar de vida e de comportamento. “Eu tinha um amigo
que levava numa van algumas listas telefônicas, com as quais eu fazia as peças
de artesanato, e outro amigo doava as tintas e vernizes”. O artesanato de Francisco
foi exposto na Expoema, em São Luis, e até em Brasília (DF).
Depois de
um ano na CCPJ do Anil, Francisco converteu-se ao evangelho. Com o dinheiro que
juntou com a venda de artesanato, Francisco abriu uma loja de recarga de
cartuchos e tonners e de locação de impressoras. “Eu queria mudar de vida, mas
não tinha condições de pagar um advogado pra ver a minha situação, até que eu
recorri ao Núcleo de Advocacia Voluntária. Dona Marilene foi visitar a gente,
soube da minha situação e me ajudou bastante”, comentou ele sobre a servidora
Marilene Aranha Carneiro Silveiro, que comanda a Coordenadoria Especial de
Acompanhamento aos Encarcerados.
Mudanças
Francisco
foi transferido para Pedrinhas e convidado para trabalhar junto ao Núcleo de
Advocacia Voluntária, projeto do Conselho Nacional de Justiça e encampado pelo
Tribunal de Justiça do Maranhão. O NAV presta assessoria aos detentos, com o
auxílio de estudantes de Direito orientados por professores. Desde 2009, quando
foi implantado, o núcleo atendeu a 5.890 pessoas. “Só mesmo estando lá dentro é
que se sabe da importância do trabalho. São muitos presos que procuram, muitas
pessoas. É um trabalho que ajuda e muito os internos. Hoje sou grato a todo o
pessoal do núcleo”, afirma Francisco, que hoje passa o dia no trabalho e
retorna somente à noite ao Albergue Masculino.
Quando
estava na Penitenciária, Francisco foi incentivado a fazer o Exame Nacional do
Ensino Médio, obtendo uma nota alta na prova de Redação. Com a média, Francisco
teve direito à bolsa do ProUni, mas devido a problemas de escolha do curso na
hora da inscrição, ele não conseguiu cursar neste primeiro semestre. “Caso não
consiga cursar no segundo semestre, queria que alguém visse a minha força de
vontade e ajudasse com meia-bolsa, ou algum tipo de ajuda. Meu sonho é me
formar em Sistemas da Informação”, declara cheio de expectativas.
Segundo
Marilene Carneiro, o exemplo de Francisco é uma prova, dentre várias, de que a
ressocialização é possível. “Vejamos o Francisco. Ele veio de São Paulo,
passando por presídios violentos, rebeliões e, hoje, percebemos que ele
tornou-se um exemplo de recuperação. A sociedade deve acreditar que as pessoas
precisam de uma oportunidade. Existem outros bons exemplos de pessoas que se
regeneraram, com o auxílio de outros projetos voltados para a ressocialização,
como o Antônio Paiva Ribeiro, que também vivia no crime e hoje trabalha aqui
com a gente”, concluiu ela.
O Núcleo
de Advocacia Voluntária foi a primeira experiência do gênero no país. A
estrutura abriga quatro funcionários cedidos pelo Judiciário e estudantes de
faculdades de Direito conveniadas. O Núcleo de Advocacia Voluntária é ligado à
Coordenadoria Especial de Acompanhamento aos Encarcerados, ambos subordinados à
Corregedoria Geral da Justiça do Maranhão. Atualmente, colaboram com o núcleo
estudantes da UNDB, CEST, UNICEUMA e UFMA. Outros parceiros do Núcleo são o
Conselho da Comunidade e o Instituto Brasileiro Pró-democratização do Ensino
Superior.
“As
pessoas nos procuram, sejam os presos ou familiares, querendo informações sobre
os processos, a gente verifica, analisa a situação e, se preciso for,
confecciona a petição e encaminha ao juiz. A certeza para os internos de que há
pessoas em busca de soluções para os seus problemas representa uma esperança e
tanto. Só o fato de ter alguém para ouvir os presos já diminui a tensão no
ambiente carcerário”, observa a coordenadora.
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